Eu cresci, mas saiba que me tornei um fracasso



Eu cresci. Mas ainda não sei quem eu vou ser. Talvez o tempo passe um pouco mais e eu ainda não encontre uma resposta satisfatória para essa pergunta que tanto me assombrou na infância: “O que você vai ser quando crescer?”. E os adultos queriam mesmo uma resposta sincera ou desejavam ouvir apenas o que eles achavam certo?

Como dita a regra, eu devia dizer que queria ser médica ou advogada, mas eu sonhava dançando como bailarina, indo á lua como astronauta e cuidando de borboletas como fada. Qual mesmo o motivo dessa pergunta? Será que ser eu mesma não é o bastante? Não posso ser quem eu sou e isso ser o suficiente? Mas não, eu tinha quer me espelhar em alguém e fazer dessa pessoa o meu exemplo, seguir seus passos e perseguir seus objetivos.

Com nove anos eu queria ser cantora, enquanto estava em frente o espelho do banheiro usando a escova de dentes como microfone eu me via em um palco e uma plateia gritando meu nome. Aos doze eu queria ser veterinária, salvar todos os gatos, cachorros e passarinhos abandonados e dar um lar a eles com muita comida e aconchego.

E depois, fui descobrindo que nunca ninguém queria uma resposta, eles só queriam que eu fosse quem eles nunca puderam ser. Pois esses adultos que tanto faziam essa pergunta também um dia foram crianças e tremiam quando tinham que dizer quem queriam ser. Mas esses adultos se tornaram domesticas, motoristas, zeladores, e não estão felizes com seu estado atual de vida, pois queriam mais, basicamente mais dinheiro em um salario maior, uma casa grande, carro do ano, férias fora do país e um belo seguro de vida.

Por isso esses adultos tanto queriam que suas crianças tivessem um destino diferente dos seus, fossem ricas, famosas e desfilassem em tapetes vermelhos, que suas meninas tivessem a chance de andarem em carruagens e seus meninos em carros conversíveis. Mas suas crianças cresceram com medo de decepciona-los, e veem que uma vida com salário mínimo é muito difícil, pois quando querem ir ao cinema nem sempre podem, e as roupas da moda atual não podem adquirir.

Esses pequenos têm seus olhos brilhantes, ideias loucas e quando chegam aos dezoito anos sentem que a liberdade é tudo que poderiam querer. Vão a lugares novos, amam, choram, e depois voltam aos pais pedindo desculpas por não serem quem eles deveriam, pois acabaram se tornando libertinos que deixam o que importa para depois.

Nisso o adulto desaba, diz que nunca mais verá sua antiga criança, pois seus planos fracassaram, tantas noites sem dormir em vão, tantas horas-extras por nada, para esse menino não ser um doutor! Que fiasco, por que isso aconteceu, meu Deus? O que eu fiz de errado? Aquele que era criança não se importa tanto com isso, sendo feliz o resto é apenas resto e nada mais.

E assim vão duas décadas perdidas, viu que o vestibular não o definiu, porque a universidade é uma caixa pequena demais para caber todo o seu talento. Porém chega aos trinta e vê que se tornou alguém como seu pai, vivendo com o mesmo salário que ganhava sua mãe, e sofre, sofre muito.

Mas o que fazer? Cresceu, aprendeu que o mundo exige de você e tem que corresponder. 
Que a vida real existe mesmo e que os contos de fadas são mentiras. Cresceu, e anda com medo, sendo que quando era criança não tinha medo, era o mais corajoso entre os mortais e agora se preocupa com pouca coisa. Cresceu, tem criança para criar e a ensina desde bebê para estudar muito, que só assim será alguém diferente do papai, da mamãe, da vó e do vô.

Eu cresci, nada aprendi de concreto, ainda tenho medo do escuro, queria que minha mãe beijasse meu coração machucado e sarasse todas as minhas feridas. Não posso mesmo responder essa pergunta que quer saber quem eu serei, porque nada sou, e acredito que não serei outra enquanto existir. Mas se quiser mesmo uma resposta saiba que sou um fracasso, pois foi isso que me tornei.

Não entendo o porquê de verem felicidade apenas no materialismo, senão mostraram que tem poder em suas mãos são considerados um lixo, tem que esbanjar mesmo, sair pelas ruas em seu carrão e sujar os outros de lama. Eu não queria nada do que o mundo me ofereceu, não tinha dom para a mentira e o engano, e quem é sincero tem uma morte social, desse modo será desprezado eternamente.

Como não tenho competência para altos cargos sou uma pessoa falida. Não posso experimentar o sabor dos meus parentes dizerem que sentem orgulho de mim. Não há festas para comemorar uma nova conquista, não tem champanhe e nem fogos de artificio. Isso cheira a amargor, por isso direi que valorizo e parabenizo quem conseguiu chegar ao topo e lá de cima olhar aqui para baixo e rir de mim que pareço uma formiga que logo alguém vai esmagar.

E bato palmas para quem consegue com o pouco que ganha nesses tempos de crise pagar as contas, dar uma boa educação para os filhos, comprar presentes para todos no natal, e deixar sobrar moedas para quando passar na praça ir ao florista comprar uma rosa para sua amada. É sério, sem ironias dessa vez. Pois o mais engraçado é que esses adultos ditos como bem sucedidos dizem não crer em Deus, e outros cometem suicídio, visto que tudo é uma farsa, pois ganharam problemas e não a solução para uma vida verdadeiramente prospera.

Sou um desastre, o dinheiro não me salvou disso, nem o diploma, nem um marido. Cresci, e aí? Quem diria que eu permaneceria a mesma?  

Trecho do livro Ela Já Foi Verão escrito por Tatielle Katluryn

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