A cada suspiro morro um pouco



Com os dedos tamborilando na janela do ônibus ao sentir a música que sai do fone de ouvido, vendo novos detalhes em paisagens que vejo todos os dias no caminho para a escola, pensei nas pessoas que estavam ali comigo retornando aos seus lares. Alguns calados olhando inexpressivos para as ruas que passavam rápido por nós, outros escrevendo mensagens no celular ou apenas olhando fotos, e poucos conversando com seus colegas sentados nos bancos ao lado.

Mas é certo dizer que a maioria dos alunos ali, e até o motorista, permanecia calada desde o momento que entravam e se sentavam ou ficavam em pé, procurando desviar os olhos das pessoas para se concentrarem apenas nas janelas abertas de onde soprava um vento gélido.

E eu fazia parte desse grupo mudo, que nos seus trinta minutos dentro do ônibus, pareciam pensar em cada ato do seu dia, daquilo que ficaram felizes por terem feito, felizes por não terem feito, e claro, tristes por terem feito e tristes por não terem feito. Na nossa mente passava até breves momentos da infância, enquanto fingíamos prestar atenção nas motos que nos ultrapassam. Sem dúvida, é o momento mais nostálgico do dia.

Eu pensei se tinha lavado a roupa, se ainda sobrará algo do almoço, quando que eu ia começar a pesquisar o assunto do seminário, dentre outros pensamentos bobos, mas que tinha certeza que muitos ali também se perdiam em devaneios sem importância.

É constrangedor ter um amigo ao lado e acabar o assunto com ele, então o que resta é o bom e velho fone de ouvido, certo? Ele que nos salva de falar quando não se tem nada a ser dito. Ou também livros são ótimos para fazer o tempo passar mais rápido, apesar de que me dá náuseas ficar lendo com o ônibus em movimento, mas vale o risco quando aquilo que reproduz a música acaba a bateria.

O fato é que trinta minutos na ida, trinta minutos na volta, em duzentos dias letivos por ano, acumulam muitas horas valiosas da minha vida perdidas em algo tão rotineiro que nada me acrescentou de bom, apenas sei que aconteceu e o vi passar. Nada de espetacular me ocorreu nessas horas, era apenas eu e mais eu mesma junto comigo e só! Sem saber que a cada suspiro morro mais um pouco, pois jovem é que não estou ficando.

O mundo passa pela janela quebrada e eu só sinto o frio enquanto penso e repenso em mim. E que coisa boa fiz para alguém? Que mudança provoquei a minha volta? Me enfiei numa rotina e não largo dela, eu escolhi me prender em algo que irá me dá um futuro tão igual a de bilhões de pessoas. Uma vida tão vazia de propósitos vale a pena ser vivida? Ser sofrida? Ser amada?

Só quero que alguém me olhe e diga com sinceridade que também está com medo de nada fazer de útil, de ficar estudando para conseguir um bom emprego, para ganhar um bom salário para comprar objetos que não precisa.

O sistema me trancafiou, vendi a ele a minha alma, dei de graça o meu coração, e me alienei voluntariamente. O que fazer para sair desse buraco negro? As estrelas cantam meu nome, mas não consigo escuta-las. Devo continuar presa a essa rotina? Devo tentar fazer algo louco e extraordinário? Bilhões de humanos andam no mesmo movimento, será que irei na mesma maré que eles? Sou um ser único, quero fazer algo único nesse caos.

Se eu chegar aos oitenta anos de idade, decerto irei me arrepender por não ter feito tudo o que pude. Por não ter amado com o amor que Deus deu a mim. 


Só se vive uma vez, como todo mundo diz, mas uma vez só soubemos viver? 


Escrito por: Tatielle Katluryn

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