O amor já esfriou e na humanidade não mais acredito
Se
ser feliz é simples, nós que complicamos o modo de agir da felicidade, e nisso não há dúvida. Mas depois de tantas
intervenções ao ambiente que nos rodeia, trazendo desiquilíbrios e catástrofes
sem avisos prévios, conseguir dar um riso sincero é uma tarefa árdua, tão
quanto plantar arroz numa terra seca onde não chove há décadas.
Eu
poderia ser feliz quando acordasse cedo pela manhã e tomasse uma respiração
profunda, só para energizar meu corpo sonolento, porém isso não dá, porque o ar
carrega odores vindos dos carros, que buzinam fora da minha janela, eu tusso
para expulsar os gases nocivos que queimam minha garganta.
E pela
tarde, saindo do trabalho, eu poderia ser feliz, se eu conseguisse andar na rua da minha casa sem medo de ter
meus bens matérias roubados por meninos de treze anos, seria bom me sentir
tranquila numa avenida movimentada, porque é péssimo olhar para os lados com o
pressentimento que minha morte vai chegar, e chegar em grande estilo, nada
menos que montada em uma moto, com um cara
desconhecido usando um capacete preto, que me dará um tiro porque eu não
quis subir na sua garupa. Ou talvez, o traumatismo craniano que fosse chegar,
quando o final fechasse e eu na faixa de pedestres atravessando com o coração a
mil, uma moça bêbada não respeitasse o
transito jogasse dela o carro em cima de mim.
Á noite,
eu queria tanto, mas tanto mesmo, ser feliz ao ficar olhando para o céu escuro
e ver pequenas luzes cintilando sobre a cabeça da humanidade, me deixando
perder em devaneios sobre a criação magnifica disso tudo, só que eu não posso
fazer isso, já que a poluição é tamanha, com suas nuvens gigantescas que
escondem as estrelas, e a lua, coitada, eu soube que morreu asfixiada.
Quero
cantar, contudo, não posso, já que o imposto sobe tanto que dinheiro não sobra
para comprar cordas novas para o meu violão, e cantar sem acordes, não dá o
mesmo sentimento de calma, que preciso tanto para afugentar os fantasmas
debaixo da minha cama.
Minha
barriga dói, tenho fome, então abro a geladeira e não tem nada além de água
fria em duas garrafas de plástico lilás. O armário da cozinha está vazio, a
conta de luz subiu tanto, a conta de água subiu também, assim o meu salario
mínimo não deu para comprar as verduras.
Ligo
a TV para me distrair, e o telejornal mostra noticia triste e mais noticia
triste, depois mostra o resultado dos jogos de futebol do fim de semana, ai eu
esqueço meus problemas por segundos e me alegro com o gol do atacante do time
vermelho e preto, que ganha milhões e não se importa com minha alegria por seu
bom desempenho. Então vem o comercial esbanjando carros, celulares, viagens ao
exterior, mulheres magras com lingeries, sabe, isso faz eu me sentir um lixo,
definitivamente um lixo! Pois sei que o congestionamento lá fora grita que não
cabem mais carros nas cidades, porém o Governo melhora as condições de
compra-los, eu sei que não preciso disso, mas eu quero, talvez só assim eu seja
feliz, porque o homem do comercial está sorrindo muito ao dirigir pela
madrugada silenciosa.
Quero
um celular novo, porque o meu não basta, e joga-lo no quintal não tem problema,
se afetar o solo não me importo, que se dane todo mundo que precisa de água do
lençol freático! Eu quero o celular onde aquela garota está tirando fotos de si
mesma, ela é tão linda com seus cabelos louros e olhos azuis, que inveja dela.
Quero
viajar para outros países com realidades distintas da minha. Tenho absoluta
certeza de que conhecer novos lugares iria preencher o espaço da felicidade em
mim. Quem sabe eu me perca na cultura alheia, e assim eu possa me achar uma
nova mulher, mais confiante e mais dona de si mesma. Onde moro é horrível
mesmo, nem faculdade tem. Melhor, é eu ir beber água para afastar essa ideia,
porque cerveja não tenho, e sei que de acordo com o anuncio na internet,
cerveja trás bons companheiros para passar a noite e perder a dignidade, que de
vez em quando não faz mal, não é? Os artistas apoiam o ato de pegar e não se
apegar. Adoro viver na influencia dos atores bonitões.
Quero
ficar magra, também. Ser gorda é chato. Os meninos me veem apenas como a
fofinha amiga deles, mas eu quero alguém para namorar comigo, e ficar magra é a
solução desse problema. Não acha? Ele, o Joãozinho, tem que me amar com meus
ossos protuberantes, porque isso que é beleza, que eu desejo do fundo da minha
alma!
Eu
poderia ser feliz, se o mundo parasse de girar e morrêssemos sufocamos. Porque,
enquanto vivermos assim aqui na Terra, meus dias estarão fadados ao fracasso,
pois sei que nunca me tornarei o que eu quero, depois deles me fazerem querer
ser o que eles querem que eu seja.
A
vida era para ser simples, como olhar uma criança gargalhando no parquinho,
entretanto, as crianças perderam a infância, meninas que já sabem diferenciar
balões de preservativos, balançam seus próprios bebês nos braços e deixaram de
lado as bonecas. Crianças que não sorriem mais porque são violentadas dentro de
casa, dentro da escola, dentro delas mesmas. Fugir para o País das Maravilhas,
ninguém quer mais. Os meninos perdidos largaram a Terra do Nunca porque lá não
tinha Wifi. Pegaram o guarda-roupa que levava a Nárnia por falta de madeira
para fazer palitos de picolé, já que todas as árvores se foram.
Suicídios
são comuns, porque a vida perdeu a graça. Gente sem proposito, vivendo só por
sobreviver, só por consumir. Pessoas vazias que se escondem atrás de telas
touch screem, perderam a coragem de olhar nos olhos umas das outras. Todos
reclamam a falta de amigos, não regam as poucas amizades que ainda possuem e
nem tem ânimo para dar um ‘bom dia’ ao vizinho que não sabem nem o primeiro
nome. Vamos provocar nossa overdose de drogas, pois tudo é licito.
Vou
casar dez vezes, insistir e ter paciência numa relação não tem mais
importância, e se eu engravidar, aborto, se eu ficar doente, morro nos
corredores do hospital. Repito: A vida perdeu a graça! Quero rir, só que não
posso, meus dentes estão amarelados pelo cigarro. E chorar é o que me resta,
cansei de ser julgada por quem não busca me entender, vou me entupir de
antidepressivos, odeio essas doenças ditas modernas!
Trás logo o apocalipse, o amor já esfriou, a fé acabou, a esperança foi embora.
Escrito por: Tatielle Katluryn
P.S: Se puder, e quiser, deixe algo nos cometários, pode ser uma crítica, sugestão, elogio ou qualquer outra coisa. Vou adorar receber <3
P.S: Se puder, e quiser, deixe algo nos cometários, pode ser uma crítica, sugestão, elogio ou qualquer outra coisa. Vou adorar receber <3
Uau...
ResponderExcluirÉ uma expressão boa, certo? Obrigada <3
ExcluirCom certeza!
Excluir