Maldito acúmulo de expectativas
Ela
sabia que sua juventude havia ido embora há um longo tempo, e que os amigos iam
ser mais escassos, além das pessoas de sua família que já partiram dessa vida,
como seus irmãos no inverno passado, outros iriam embora, sabia que lhe
restaria agulhas de tricô como companhia, uma casa com quartos vazios e sua
imaginação como refugio.
Seu
corpo era pequeno, magro e frágil, apesar de sua mente brilhante, espirito
intelectual, bom humor, coração sincero e fiel, os traços considerados belos
nos padrões estipulados por sua sociedade não se faziam presentes em sua
genética, e isso a fazia se sentir desprovida de beleza, tendo apenas uma alma
bonita que ninguém conseguia ver, e se pudessem enxergar, decerto não a
valorizariam.
Não
havia dúvidas quanto a solidão na qual estava totalmente submersa. Seus dias
eram cheios de tarefas domésticas, recados a dar, mensagens a responder, e
encontrava prazer só na escrita, quando finalmente podia esquecer um pouco do
mundo cruel a sua volta e se concentrar em coisas boas que não existiam.
Por
ser uma mulher de trinta e oito anos, solteira, morando na casa do pai viúvo,
com irmãos todos mortos, não tinha muito sobre o que sonhar, apenas sobrava
lamentos. Quem tanto amou, a desprezou, pois a considerou somente uma boa
amiga, enquanto ela queria se casar com o rapaz. Nenhum homem de bem estava
disposto a leva-la ao altar naquele estágio sombrio de sua vida pacata.
Passou
certa noite acordada, pensando nas duas recusas que deu a homens apaixonados
por ela quando era jovem e se sentia imortal, pois achava que poderia ser dona
de si mesma, que não precisaria de ninguém para ser feliz, ficaria muito bem ao
lado dela mesma e a sós com seu coração inquebrável.
Mas
o tempo passou, a imortalidade tão sonhada não chegou, então ela se sentiu tão
só quanto uma ilha pequena no meio do oceano pacífico. Seu erro foi acreditar
nas mentiras de quem disse a ela que poderia ficar bem ao conquistar
independência, e quando já era tarde ela pôde perceber os enganos que aceitou, as
falsidades que acreditou, porque sabia que não importa o tamanho do amor
próprio, da felicidade na carreira, e qualquer outra coisa, quando tudo isso
não pode ser vivido e compartilhado ao lado de alguém que se ama e por quem se
sente amado.
A
vida correu e ela não conseguiu apressar o passo para alcança-la, mas mesmo
assim, algo lhe sorriu, pois alguém se apaixonou por ela, mesmo tudo sendo tão contrario
a isso, e ele não correspondendo ao seu acúmulo de expectativas, ela sabe que
não poderá ama-lo profundamente, que sua carência que está gritando alto, porém
se viu sem chances de algo melhor e teve que aceitar esse presente do destino.
Leia também a resenha do livro Miss Bronte, no qual me inspirei para escrever este texto sobre a Charlotte Bronte.
Escrito por: Tatielle Katluryn
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