Ela iria por um fim em si mesma
Ela nunca antes havia
cortado os pulsos, nem qualquer outra parte do corpo. Não se vestida com roupas
sombrias que a escondiam e poderiam deixa-la cinza. As músicas que ouvia falavam de tentar outra vez e não sobre desistir. O sorriso dessa menina vivia
estampado em seu rosto. Nunca vi alguém transbordar tanta autoconfiança quanto
ela.
Quem a visse poderia
dizer que gostou de imediato de seu bom humor, que era uma menina calma com
grandes objetivos e opiniões criticas sobre o mundo. Mas ninguém sabia que em
uma quarta-feira, sozinha em seu apartamento, ela chorou até seus olhos ficarem
inchados e ela desejou novamente acabar com a própria vida.
Ainda chorando no quarto
escuro, levantou trôpega da cama e foi cambaleando até o banheiro. Abriu o
pequeno armário que havia debaixo da pia e tirou de lá uma caixinha branca onde
guardava seus remédios. Com as mãos trêmulas abriu a tampa e pegou duas
cartelas de comprimidos para dormir.
Seu namorado não sabia,
nem sua mãe, e se seu pai estivesse vivo ele também não suspeitaria que a
menina estava totalmente destroçada, que há meses havia perdido a esperança e
amor por si mesma.
Os motivos de sua
tristeza ainda eram um tanto confusos. Ela mesma não sabia explicar a seu
coração as razões que a faziam deitar na cama e chorar até pegar no sono.
Mas não havia dúvidas quanto aos sentimentos ruins que cultivava, guardava mágoa, até ódio e rancor. Ela se
sentia a decepção na vida de quem a amava. Não se via com bons olhos, se achava
ridícula ao bancar a garota que nunca seria. Era uma derrotada que dizia que
tinha vencido, era uma farsante que se dizia a mais honesta, era uma fraca que
falava que era a mais forte.
Não acreditava na sua
capacidade de mudar o mundo. Sentia que sua existência era tão importante
quanto a de uma mosca. Gostava de se diminuir com adjetivos desagradáveis. E
naquela noite ela pegou os comprimidos, foi até a cozinha e encheu um copo com
água.
Tinha medo de não
conseguir ir em frente. Não queria que seu namorado batesse na porta, por mais
que ela já tinha avisado que queria ficar sozinha naquele noite, porque mentiu ao
dizer que estava com muita dor de cabeça.
Ela se forçou a
lembrar de seus erros cometidos. Ela sabia que uma pessoa boa pode fazer tudo
certo, mas se errar uma só vez apaga o que fez de correto, e as pessoas a
tratarão como lixo sem nenhum valor. E se alguém que faz tudo errado e um dia
tenta fazer algo certo e consegue, ninguém confia em seu alto bom e sim o julga
mais ainda.
Cansou de ser
maltratada pelos outros, de não ser boa o suficiente, queria dar fim a vida que
não deveria ter sequer começado.
Ela caiu no chão da
cozinha, o copo quebrou ao seu lado e a água derramada a molhou. Os
compridos
se espalharam e ela chorou como se essa fosse a única saída de sua dor.
Por mais que se
sentisse no direito de ir para o inferno, não podia abrir mão de tudo que já
havia conquistado. Não se amava mais, porque as pessoas a criticaram tanto que
aprendeu a se odiar, porém poderia achar motivos para voltar ao amor que tinha
por suas qualidades perdidas.
Ela era sim mais
forte que qualquer palavra dura e maldita que tinham dito a ela. Era bonita não
de acordo com os padrões dos outros. Poderia ser feliz se deixasse de se
importar com as mentiras que contavam a ela.
Decidiu acreditar em
Deus. Se levantou do chão, foi até a pequena janela da cozinha e ficou olhando
o céu com algumas estrelas brilhando.
Chorou mais alto ao
imaginar a imensidão do Universo e como era pequena no meio de tudo aquilo.
Tinha que haver mais que sua dor, mais que seu sofrimento e lamentos. Decidiu
se agarrar ao pouco que fazia sentido a sua volta.
Sabia que não poderia ser forte o tempo inteiro, iria desabar vez ou outra, mas não iria por fim a tudo que era por raiva de não conseguir ser a melhor.
Queria desistir porque não se achava capaz de viver num planeta onde as pessoas faziam questão de pisá-la para conseguirem o que querem. Não gostava de ser a pessoa incomum no meio de quem se dizia normal. Era diferente e sabia disso, mas a tratavam tão mal por isso que não suportava se ver no espelho e olhar o que não via nos outros.
A pobre menina não conseguia aguentar as ofensas, ela sabia que as pessoas machucavam umas as outras e não ligavam, só que sofria muito por cada olhar torto direcionado a ela.
Ela existia e iria
fazer por merecer essa dadiva. Tinha que continuar. Ela iria prosseguir. Porque acredita que sua vida tinha uma razão e um motivo. Poderiam continuar a machuca-la, mas sabia que
suas feridas iriam ser curadas, porque ninguém além dela mesma é mais capaz de
poder destruí-la para sempre.
Escrito por: Tatielle Katluryn
Sem palavras...
ResponderExcluirForte, inspirador, realista...
<3
Obrigada, que essas palavras te incentivem a continuar <3 Nunca desista, nunca.
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